O que há no fundo da depressão?
O que há no fundo da depressão?
A depressão é o sintoma, aquilo que aparece, mas o que há no fundo? Podemos pensar que, embora existam características comuns ao estado depressivo, cada pessoa a vivencia de maneira única a partir da sua história, entrelaçada por relações e acontecimentos da vida que emergem em toda sua complexidade e dinâmica, ou seja, há um sentido relacional ou existencial que solicita por algo característico, específico e que na maioria das vezes diz sobre necessidades não atendidas.
Não podemos perder de vista também que, formas típicas de sofrimentos agravados na atualidade são parcialmente produzidos pelo contexto social e cultural, com diferentes intensidades e nuances. Assim, refletimos: Que características presentes hoje, em nossa sociedade favorecem a depressão?
O trabalho terapêutico é desenvolvido junto com o cliente e no seu tempo, considerando “como” a pessoa vivencia sua depressão, favorecendo descobertas e o manejo das questões presentes. Uma das formas é buscar oferecer o fortalecimento do autossuporte pelo autoconhecimento, confirmação e exploração das necessidades não observadas e (somente quando necessário) o acionamento das pessoas que compõem a rede de relações significativas, num trabalho conjunto de apoio.
Cabe ressaltar que a dupla, psicoterapia e medicação, conforme apontam os estudos, são a melhor combinação para melhoras consideráveis da depressão. Busque ajuda profissional.
Provavelmente você já ouviu sobre situações em que a pessoa ao sentir alguma dor, incômodo físico (manifestado no corpo ou na pele) buscou por médicos, realizou todos os exames e nada foi constatado à nível biológico. Isso normalmente resulta em uma recomendação médica para que o paciente inicie uma psicoterapia.
Adentramos, aqui, no campo da psicossomática, que é quando os conflitos emocionais e psicológicos contidos, não conscientes e não expressados se refletem no corpo que adoece.
O trabalho cuidadoso em psicoterapia convida o cliente a compreender sua totalidade (saúde-doença), já que corpo (soma) e mente (psico) são unidade, estão integrados. Chama a encontrar e a atualizar respostas na sua existência, sua história e suas relações, o que pode proporcionar novos ajustes e sentidos no viver, restabelecendo a saúde.
Muitas vezes podemos nos sentir distantes de nós mesmos, da nossa essência e daquilo que realmente importa. O deveriaísmo*, no modo disfuncional, pode se manifestar na comparação com os outros, na tentativa de se encaixar em padrões sociais ou na vivência para satisfazer expectativas lançadas sobre nós.
Deveriaísmo nos convida a refletir sobre "o que acredito que devo ser ou fazer." O primeiro passo é questionar se algo, nesse sentido, causa desconforto ou sofrimento. Assim é possível trabalhar a diferenciação do que é realmente seu e do que pertence ao outro/sociedade.
*Termo por Friedrich Salomon Perls (Fritz). Nasceu em Berlim em 1893 e é o fundador da Gestalt- terapia juntamente com Lore Posner Perls (Laura).
Com o olhar um pouquinho mais atento podemos constatar uma forte tendência no discurso que reproduz o sintoma ou o transtorno como uma definição ou rótulo à pessoa, dessa maneira ela é, a própria doença. Frequentemente ouvimos... “aquele jovem é depressivo, aquela criança é TDAH” (transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade), ou seja, o reducionismo, com o foco na doença, parece colaborar numa anulação da pessoa em suas diversas dimensões, características, possibilidades e singularidade.
Ademais, os sintomas e sofrimentos normalmente apontam rotas para a própria compreensão das necessidades não observadas e não atendidas, o que pode vir a ser trabalhado em psicoterapia.
Somos seres abertos, capazes de vivenciar experiências que se configuram como indizíveis, não nomeáveis, somos abertura para tudo aquilo que escapa ao racional e ao concreto. Dessa maneira, para além das dimensões biológicas, psicológicas, emocionais e socioculturais, o aspecto da espiritualidade também é considerado.
A espiritualidade e a religiosidade, embora nos remeta à mesma ideia, são distintas.
A espiritualidade, como aspecto humano, é a busca pessoal de sentido na vida que convida para ir além, movimenta, inspira, um sair de si mesmo, orienta o próprio caminhar e não está ligada necessariamente à crença em um ser transcendente. Já na religiosidade o movimento se dá na experiência individual, através da concepção do que cada pessoa considera ser divino ou sagrado. Ambas são aspectos presentes na condição humana.
A temática é extremamente interessante e complexa. Texto referenciado a partir da obra de Beatriz Helena Paranhos Cardella em A Clínica, a relação psicoterapêutica e o manejo em Gestalt- terapia, publicada em 2015 pela editora Summus.
A ansiedade é um estado presente em todos nós, faz parte da nossa existência e pode ser vivenciada em menor ou maior intensidade. A definição de Fritz Perls ilustra bem essa sensação: “Na ansiedade temos uma vivência de tensão entre o momento atual e o momento futuro.”
O termo ansiedade tem origem na palavra angústia que tem conotação com “passagem estreita, estreiteza do peito” e pode ser compreendida como normal ou patológica. Na dita “normal” podemos observar que ela promove cuidado, nos convida ao preparo de algo que virá, já na “patológica” as ações são interrompidas, nos coloca em evitação ou em situações conturbadas e em casos agravados requer acompanhamento profissional com psicólogo e psiquiatra.
Em ambas, há uma tensão de ameaça acompanhada normalmente de pensamentos e expectativas pessimistas que antecipam situações. Um trabalho cuidadoso de acompanhamento psicológico busca a compreensão do sentido da ansiedade, a função dela na vida da pessoa, proporcionando significativos ajustes na qualidade de vida.
Texto referenciado a partir da obra de Ênio Brito Pinto - Dialogar com a ansiedade: uma vereda para o cuidado, lançada em 2021 pela editora Summus.
A palavra “adolescente” vem do particípio presente do verbo latim adolescere, que significa “crescer”. Crescer com as descobertas e novidades de si e da vida. Na ótica gestáltica, a adolescência é vivida e experienciada a partir de características e acontecimentos “comuns a todo adolescente” como por exemplo, as mudanças hormonais e corporais, contudo, a perspectiva orienta o trabalho na compreensão da Singularidade do vivido e do trazido pelo adolescente, considerando sua história de vida e o contexto no qual está inserido.
Junto à busca de identidade (necessária e legitima) um turbilhão de coisas podem emergir e acredite...cada um de nós - independente do período da vida- tenta à sua maneira ajustar-se da melhor forma possível com os recursos que tem disponível.
Mudanças proporcionam crescimento e a clínica com adolescentes pode vir a ser um espaço de facilitação, possibilitando a ampliação de recursos no momento da vida em que se busca naturalmente autonomia e segurança para ser.